Existem dois tópicos passíveis de abordagem sobre esse assunto. O primeiro ponto refere-se às fatalidades. Situações imprevisíveis que estão mais relacionadas ao risco de simplesmente estar vivo do que ao risco de uma cirurgia em si. Todos nós estamos sujeitos a esse risco a todo momento, mesmo dormindo em nossos lares. No entanto, esse risco é muito baixo, não nos impedindo de realizarmos nossos sonhos, assim como ninguém vai deixar de fazer uma caminhada na praia pensando que pode haver um tsunami. Embora estatisticamente insignificantes, tsunamis acontecem, mas são tão raros que não valem perder a felicidade da beleza de um por do sol com o pé na areia.

O segundo ponto se refere aos acidentes cirúrgicos. Nesse aspecto, gosto de fazer um paralelo com os desastres aéreos. As grandes investigações sobre os acidentes nunca falam de “causas”, mas sim de “fatores contribuintes”. Ou seja, um avião não cai por um motivo só, mas por uma junção de fatores, que coincidem e provocam um desastre.

Lembra-me um desastre ocorrido no aeroporto de Congonhas em São Paulo. O motor reverso da aeronave estava desligado, o piloto não puxou a alavanca até o fim, os aparelhos de controle não alertaram para o erro como deveriam e a pista estava molhada. Se qualquer desses fatores não tivesse acontecido, nem ouviríamos falar no caso.

Os acidentes cirúrgicos também não acontecem por um motivo apenas. Uma equipe bem preparada pode não conseguir eliminar todos os fatores contribuintes, mas vai conseguir eliminar alguns deles ao ponto de tornar o procedimento bastante seguro.  Para isso, é fundamental que todos os passos desde a primeira consulta sejam seguidos, não negligenciando os rituais de consulta e exames, escolhendo hospitais bem preparados e seguindo todas as orientações pós-operatórias.